quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Chuva no Sertão



É bonita a sinfonia
Da chuva molhando o chão
Da biqueira derramando
Do ribombo do trovão
E do vento se embrenhando
Nas saias da plantação.

(Luciano Pedrosa)

Seu Lunga

Seu Lunga (Joaquim dos Santos Rodrigues) (Caririaçu, 1927). É um personagem do folclore nordestino.
Conhecido pela falta de paciência nas respostas, diversos contos são atribuidos a sua pessoa aonde nem sempre pode ser comprovado sua autenticidade.
Ele é dono de uma sucata em Juazeiro do Norte que vende de tudo, desde aparelhos de televisão a frutas. Recebeu o apelido de uma senhora, que era vizinha, e passou a chamá-lo de Calunga, que mais adiante se reduziu para Lunga.
O que faz "Seu Lunga" famoso é o fato de ele ser considerado o homem mais grosseiro do Estado e possívelmente do país, como se diz por aqui, a paciëncia dele é do tamanho do coice de um Preá. As estórias e histórias são muitas, e não existe uma linha que separe as primeiras das segundas...

São "causos" que se espalham boca-a-boca e tem mais graças quando contados com um quê de encenação do que escritos.
 No dia do Casamento
"Seu Lunga" é casado já fazem algumas décadas, casou-se m algum lugar da década de 50, e diz-se que no caminho para a casinha que ele havia construído (matuto casa e vai pra casa), ele encostou a bicicleta na beira da estrada e disse pra mulher:
- Mulher, se tú tem que mijar, mija logo agora !!!!
- Calma Lunga, deixa chegar em casa...
- Que em casa nada mulher, em casa na hora que eu ocupar teu mijador não sei que horas libero.

O valor que o peido tem!!


O peido é bom toda hora
Sem peido não há quem passe
A criança quando nasce
Tanto peida quanto chora.
Um peido ao romper da aurora
Eu não troco por ninguém
Há noites que eu solto cem
Peidos grandes e pequenos
Já conheço mais ou menos
O valor que o peido tem.

Um velho já moribundo
Nas agonias da morte
Soltou um peido tão forte
que se ouviu no outro mundo,
o peido gritou no fundo
que só apito de trem,
o velho sentiu-se bem
Levantou-se no outro dia
dizendo a quem não sabia o valor que o peido tem.

Pela porta do bufante
para não morrer de volvo
Diariamente eu devolvo
Peido grande a todo instante
o sujeito ignorante
não me compreende bem
Fecha a porta do sedém
Deixa o peido apodrecer
Esse morre sem saber
O valor que o peido tem.

Um peido silencioso
Por baixo de um cobertor
É tão grande o seu valor
Que descrevê-lo é custoso
Cheira mais que o mais cheiroso
Vale de Jerusalém,
As roseiras de Siquém,
As Savanas do Saara
Nada disso se compara
O valor que o peido tem

Ofende muito a pressão
Peido grande encarcerado
Deixa o corpo aliviado
Depois que sai da prisão
As veias do coração
Controlam-se muito bem
Sente o coração também
Uma alegria sem par
Ninguém sabe calcular
O valor que o peido tem.

Uma dor que faz mudar
A cadência dos ouvidos
São os peidos recolhidos
Que você não quis soltar
Não vá se... prejudicar
Em respeito a seu ninguém
O velho Matusalém
Quase mil anos viveu
Porque toda vida deu
O valor que o peido tem.
Fubica foi se casar
Ou se casava ou morria
Peidou tanto nesse dia
Quase derruba o altar,
A noiva foi reclamar
Findou peidando também
O padre disse meu bem
Só não peida quem morreu
Ninguém dá mais do que eu
O valor que o peido tem.

Peido azedo de água soda
Fede a casca de limão
E de jabá com feijão
Passa folgado na roda
Peido nenhum se incomoda
Com censuras de ninguém
Presta um favor quando vem
Aliviar quem padece
É quando a gente conhece
O valor que o peido tem.

Um peido em pleno verão
Cheirando a cu de veado
Tava sendo arrematado
Numa festa de leilão
Quando chegou num milhão
Não quis mais gritar ninguém
Naquilo o prefeito vem
Dizendo a honra me cabe
Minha prefeitura sabe
O valor que o peido tem.

Eu não conheço valente
Por muito brabo que seja
Que não peide na peleja
Vendo o perigo na frente
Com o medo que a gente sente
Mais ligeiro o peido vem
Empurrado por xerém
Cebola, feijão, quiabo
Dizer na porta do rabo
O valor que o peido tem.

No mundo não há ninguém
Pra saber mais do que eu
O valor que o peido tem
E o peido que a nega deu. 

(Otacílio Batista)
 

"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."

                                                                                                Nelson Rodrigues. 

Isso é cagado e cuspido, paisagem do interior...

Entre o cabaço e o comedor - Jessier Quirino


Quando surgiu por aqui a palavra roubalheira, cuidaram logo de rapar o “R” de Brasil, pensando que tinha um cifrão, e tinha. Daí a dificuldade da gente escolher um candidato a dono da casa e tocaieiro. Quer ver? Vá ouvindo aí: Em todo discurso microfonado a frase mais festejada é “Agora vamos a luta!”. Pelo perfil faminto dos apoiadores, e pelo pingue-pongue das acusações de lado a lado, conclui-se que LUTA pode ser Legião Única da Trambicagem Afiada. E a LUTA continua.

Eis que, no meio da campanha, surge um pacote supremo de trovões e de coriscos e um anúncio assustador:
− Quem for a favor do furto, da mentira e do aborto jamais chegará ao plano alto!!!!
 Não era Planalto, era plano alto. Repetindo: plano, alto. O lugar edênico; o olimpo; a mansão dos justos; o sublime plano das alturas. Pensaram que era Planalto e que teria, por certo, o visto do céu, aí deu o créu.

Tome juras de bondade, tome amor à cristandade...
Como é que pode, meu cumpade, se falar em ir pro céu, se, na terra, eles botam até óculos pra melhor acertar o centroma do povo? Aqui, quando um homem público, de tanto destampar o eleitorado, é acusado de “abuso de foder”, se desculpa na justiça dizendo: Ora, Excelentíssimo Ministro do Sopremo, eu fudo desde os 15 anos!! Pode um negócio desses? Eu FUDO? E não é Sopremo, é Supremoooo! E não é porque começou aos quinze anos que vai continuar a fornicada. Chega, cacete!

E como se não bastasse, tem a Lei da Ficha Limpa, aprovada, inclusive, pelo fichário sujo que escapou do alçapão. Pode? Pode. É só criar uma nova sigla: FACSE - Fundo de Apoio ao Corrupto Sem Esquema, e a

LUTA continua feito parafuso em compensado: fura, mas não deixa rosca.
Não podemos esquecer, lógico, o trabalho milagroso dos marqueteiros A e B, que consiste em pegar um rolo grande de arame farpado, rebater as pontas agudas, muito bem rebatidas, enrolar em plástico-bolha cintilante e sacudir nos peitos do povo, dizendo: “Vá por mim, vote nesse traste”. Depois de eleito é só abrir o rolo e ver o rolo que vai dar.

A tática de campanha do partido governista é apenas trocar de tambor: sai um tambor e entra outro; novinho; cabaço; virgem de eleição. Porém, apresenta falhas: penetra sem saliva na flor-roxa do sujeito e, que nem fábrica de pólvora, por qualquer bobagenzinha, é sujeita a explosão.

A tática da oposição é trocar o batalhão, as armas e o fardamento e manter apenas o alvo: o kuwait castigado da áurea e verde nação. Mas também tem dois defeitos: fama negra partidária de comer o eleitorado, e a feição do candidato ser de um mastro hasteado, em formato de ereção.

Aviso final ao eleitor: O lacre da Urna Eleitoral é uma cartela de ficha limpa entre o cabaço e o comedor. Votou sujou.

Ai se sêsse!

Se um dia nós se gostasse;
Se um dia nós se queresse;
Se nós dois se impariásse,
Se juntim nós dois vivesse!
Se juntim nós dois morasse
Se juntim nós dois drumisse;
Se juntim nós dois morresse!
Se pro céu nós assubisse?
Mas porém, se acontecesse
qui São Pêdo não abrisse
as portas do céu e fosse,
te dizê quarqué toulíce?
E se eu me arriminasse
e tu cumigo insistisse,
prá qui eu me arrezorvesse
e a minha faca puxasse,
e o buxo do céu furasse?...
Tarvez qui nós dois ficasse
tarvez qui nós dois caísse
e o céu furado arriasse
e as virge tôdas fugisse!



                                                                        Zé da Luz