quinta-feira, 17 de novembro de 2011

MEU QUINTAL


    Passei meus primeiros anos de vida numa casinha simples, em um sítio mais simples ainda. Não simples no sentido da importância, do tamanho ou de qualquer outra coisa - a não ser no aspecto sertanejo e bucólico que este ostentava. Era uma casinha no meio do nada, com uma estrada sem saída, que passava na frente, e ia dar na casa dos meus avós.  Havia apenas um quarto, que até o meu nascimento, era o suficiente - já que até então, lá moravam apenas  meus pais e minha irmã.
    Quando eu nasci, tomei o lugar da minha irmã mais velha no quarto dos meus pais. Ela, por sua vez, já com três anos de idade, pôde dormir numa rede, sem problemas. Depois de alguns anos, eu não teria a mesma sorte: caí da rede logo na primeira vez em que fui dormir nela. Mas esse era um problema que seria totalmente resolvido mais tarde,  já  que a pessoa que vos fala logo faria as pazes com esse estranho objeto para todo o sempre (adoro redes). Uma vez que, depois de algumas quedas e pancadas, aprenderia e conseguira dormir muito bem, apesar dos pesares.
      A casa era bem pequena, como já mencionei, mas o quintal, em compensação era imenso, totalmente desproporcional. Mainha só dava conta de varrer ao redor da casa e o restante servia de pasto, roça, monturo, moradia de cobras (e como tinha cobras!). Na parte mais afastada da casa havia muitos buracos no chão que serviam de ninhos pra essas criaturas nada agradáveis. Havia, também, pés de umbuzeiros, catingueiras e outras árvores que nem sei o nome. Tão grande era o quintal, que às vezes não encontrávamos as galinhas para o caso de alguma ser eleita prato principal do almoço.
     Quando fiz quatro anos, minha irmã mais nova já estava com dois e então, éramos  minha irmã mais velha e eu nas redes e a caçula com meus pais, mas logo a casa ficou com espaço ‘de menos’ pra ‘família demais’ e foi aí que veio a decisão da mudança. A nova casa, na rua, tinha dois quartos grande e espaço suficiente. Fui com meus pais vê-la, quando ainda estavam negociando. Depois na mudança, minha curiosidade, já naquela época, era excessiva pra uma criança da minha idade e, talvez por isso, me lembre de tantos detalhes.
    A casa era pintada de branco - caiada na verdade - tinha portas e janelas de madeira, daquelas portas divididas em duas partes, uma calçada alta de um lado e mais baixa do outro - lá no sítio não tínhamos calçada. De um dos lados da casa e na parede dos fundos, vários pés de “boa noite” e “bom dia” davam a casa um ar aconchegante, quase familiar. Havia uma torneira de cor dourada próximo à porta de entrada e outra no quintal, próximo a porta da cozinha. Havia, também, um pé de espirradeira e uma carreira de tijolos de um muro começado e não terminado.  A vizinha do lado ouvia música sertaneja,  mas uma coisa naquele dia, me marcou mais que qualquer outra: enquanto passeava pelo quintal, vi se aproximar um rapaz que eu nunca vira antes. Aproximou-se e ficou observando a movimentação de pessoas na casa. Meus pais entretidos com a mudança não perceberam o rapaz observando-os e eu, assustada, corri até eles pra avisar que havia um estranho dentro do nosso quintal. Foi aí que eles me disseram que o rapaz não estava no nosso quintal e sim do lado de fora, na rua. Só estava passando e parou pra olhar os novos vizinhos. Só aí eu percebi que havia muito que saber e muito pra conhecer...
 Que o meu quintal havia diminuído, sim - e muito - que agora havia limites entre o meu mundo e o mundo lá fora...

 Mas que esse mundo lá fora era bem maior que meu antigo quintal.


Adriane Freire
Edição: Géssica Amorim



terça-feira, 1 de novembro de 2011

E se tu quiser também


Quando eu olho pra você
Tudo em mim se revela
Tudo de mim se atropela
Fico todinha à mercê

E viro menina outra vez
Querendo teu beijo doce
Feliz eu seria talvez
Com um beijinho que fosse

Seria o bastante porém,
Pra que eu quisesse mais
Pois um tempão já se tem

Que eu te mando os sinais
E se tu quiser também
Eu falo até com teus pais.

Adriane Freire

domingo, 30 de outubro de 2011

E agora José? No meio do caminho tinha uma pedra...

  

  Em 31 de Outubro de 1902, nascia em um lugar chamado Itabira do Mato Dentro – MG, aquele que seria, na nossa história, um dos maiores poetas que esse país ou talvez o mundo, já tenha tido conhecimento... Nascia Carlos Drummond de Andrade.
 Desde muito jovem já se interessava pelas letras, participava de pequenos jornais e sarais, manifestando sempre que podia, sua profunda admiração pelos outros grandes nomes da poesia, tais como Manuel Bandeira, Mario de Andrade e Oswald de Andrade e a partir do momento que começou a escrever, seus poemas foram sendo cada vez mais admirados e aclamados pelo público e crítica.
 Carlos Drummond de Andrade tinha o dom de tocar, sensibilizar, escandalizar e cativar a todos com palavras simples e ao mesmo tempo fortes, que faziam e ainda fazem com que admiremos cada vez mais seu trabalho, que proporciona àqueles que amam a poesia, como eu, uma dose mais que satisfatória de cultura, humor, amor e inteligência que só um gênio como Drummond poderia proporcionar.
 Como não poderia deixar de fora, alguns dos versos que mais gosto de um dos poetas que mais admiro:

“Mundo mundo, vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo, vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

              (Poema das Sete Faces.).

As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

Carlos Drummond de Andrade.


quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Longe é um lugar que não existe... (Considerações sobre a minha nova vida).


Sempre me imaginei perto da minha família até a velhice
Sendo que por vezes, esquecia-me de essa era a minha vontade e não necessariamente a vontade de todos à minha volta...
Sempre gostei de estar perto das pessoas que gosto, mesmo que essas nem saibam o quanto são adoradas.
Acontece que há um dia na vida de cada pessoa, em que se deve tomar a decisão de partir ou simplesmente amargar a angústia de ter que ficar... Pois eu tive que partir... E aqui estou! “Cidade grande” pra onde nunca imaginei vir um dia, pelo menos não pra ficar. Onde tudo me soava grande demais, perigoso demais, difícil demais, distante demais...
Só que nessa vida, nada nunca é como parece ser e aos poucos vou, na medida do possível, me adaptando à nova vida, conforme seu incansável curso, tentando sempre buscar a melhor maneira de adaptar-me, tentando apegar-me a qualquer coisa que torne esse processo mais fácil; e foi assim que minha atenção foi chamada pra uma frase adesivada num jipe todo cheio de bandeiras de muitos países, muitas que eu nem sei identificar à quais países pertencem, sempre vejo esse mesmo carro em lugares diferentes da cidade, como se ele percorresse sempre o mesmo caminho que eu. Bem, a frase diz o seguinte:
“Longe, é um lugar que não existe”.
Bonito não? No mínimo, sugestivo...
Fez-me pensar bastante em quanta importância damos a palavra “longe”... Distante, inatingível, inalcançável, inviável, quando na realidade, se pararmos um pouco pra pensar, descobriremos que tudo isso não passa de uma questão de ponto de vista, de dar o primeiro passo...
Tudo depende inteiramente do que está dentro de cada um... Uma pessoa pode achar que um determinado lugar está muito longe, até sentir a necessidade ou a vontade de estar nesse lugar, talvez por algo importante, um bom motivo, um bom negócio, uma pessoa... A partir do momento que se cogita ir á esse lugar, automaticamente a distância já deixa de ser um absurdo.
O longe deixa de existir, quando se tem um objetivo, pois a cada passo que se dá, cada milímetro que se avança, é um espaço a menos a ser percorrido até o ponto de chegada e com esse pensamento, hoje consigo sentir as pessoas que amo mais perto de mim ou “menos longe”. Como se cada pessoa querida estivesse mais próximo de mim do que antes, estejam eles em Pernambuco, São Paulo, Paraná, Piauí, ou Alemanha é como se estivessem aqui, comigo, o mais perto possível, nos meus pensamentos e lembranças.
E visita-los não seria um grande problema, se assim eu sentir necessidade... Por que não ir??
Tenho milhões de motivos que reduzem a distância ao menor de todos os problemas, afinal...
LONGE, É UM LUGAR QUE NÃO EXISTE!!!

                                                                                     Adriane Freire

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Amigos, ainda...



Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas
jogadas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos
que tivemos, dos tantos risos e
momentos que partilhamos.
Saudades até dos momentos de lágrimas, da
angústia, das vésperas dos finais de semana, dos finais de ano, enfim…
do companheirismo vivido.
Sempre pensei que as amizades
continuassem para sempre.
Hoje não tenho mais tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.
Talvez continuemos a nos encontrar, quem
sabe…nas cartas que trocaremos.
Podemos falar ao telefone e dizer algumas
tolices…
Aí, os dias vão passar, meses…anos… até
este contacto se tornar
cada vez mais raro.
Vamo-nos perder no tempo….
Um dia os nossos filhos verão as nossas
fotografias e perguntarão:
“Quem são aquelas pessoas?”
Diremos…que eram nossos amigos e……
isso vai doer tanto!
“Foram meus amigos, foi com eles que vivi
tantos bons anos da minha vida!”
A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes
novamente……
Quando o nosso grupo estiver incompleto…
reunir-nos-emos para um último
adeus de um amigo.
E, entre lágrima abraçar-nos-emos.
Então faremos promessas de nos encontrar
mais vezes daquele dia em diante.
Por fim, cada um vai para o seu lado para
continuar a viver a sua vida,
isolada do passado.
E perder-nos-emos no tempo…..
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde
amigo: não deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas
adversidades sejam a causa de grandes
tempestades….
Eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os
meus amores, mas enlouqueceria se
morressem todos os meus amigos!



Minha singela homenagem ao 123º aniversário do gênio Fernando Pessoa...


quinta-feira, 9 de junho de 2011

SAMBADA DA LAIA

   O grupo LAIA - Laboratório de Intervenção Artística, da cidade de Camaragibe, atua efetivamente na propagação e disseminação da cultura nas suas mais variadas vertentes, trazendo e promovendo atividades que difundem aquilo que de melhor existe no que diz respeito à cultura e manifestações artísticas.

   Abaixo o cartaz de mais uma dessas ações, não deixe de conferir!!!


Com a bênção de São João Xangô Menino, Santo Antônio e São Pedro, a Sambada da Laia de junho vai fazer todo mundo arrastar pé, cirandar, dar muita umbigada e levantar poeira no salão do Gruta Bar, lá na Vila da Fábrica, em Camaragibe. A noite começa cedo, às 20h, com mais uma edição do Cineclube da Laia, que fará uma sessão dedicada à temática junina e às relações amorosas. Serão exibidos os curtas Meat love e Dimensões do Diálogo (este último não foi exibido na sessão de maio por problemas técnicos), ambos do cineasta tcheco Jan Svankmajer, e o longa Viva São João, de Andrucha Waddington.

Depois do escurinho no cinema, terão início (mas não se sabe quando terão fim) os trabalhos musicais da festa, que contará com a presença de representantes de Adiel Luna e Coco Camará, Coco do Manoel, Bongar, Forró de Cana, Coco dos Pretos, Banda de Pife, Pandeiro do Mestre, Sagarana, Mestre Zé Maria, Coco de Senzala, Casas Populares da BR 232 e Coco do Seu Benedito. A grande pedida para a noite do próximo sábado!


Quando: 11 de junho, a partir das 21h
Onde: Gruta Bar (em frente à frente da Praça de Eventos e ao lado da Praça da Gruta)
Quanto: Gratuito
Informações: 8553-2565 e 9724-3144

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