quinta-feira, 10 de março de 2011

Coisas de matuto

Após ouvir o final da narração, Henrique se despede do seu compadre, o vaqueiro  Severiano.
-  Bem, tô chegando, cumpadre. Onde é que tem umas pinhas boas aqui na feira? 
- Tem um cabôco de Mimoso, num banco em frente à bodega de “Seu” Olimpo,  vendendo umas pinhas maduras e acho qui não usou carburêto.
Té mais cumpadre. Lembrança à cumadre e aosmininos. -  Despede-se, Henrique.
Inté, cumpadeQui Nosso Sinhô Jesus Cristo o acompanhe. – Despediu-se o vaqueiro.
Henrique logo avistou o feirante. Era um moreno baixo, troncudo, cara de mameluco, barrigudo, com a camisa toda aberta, deixando à mostra um umbigo do tamanho de uma pitomba.
- E ai freguês as pinhas são boas mesmos? Perguntou Henrique.
- São as mió pinhas da minha terra, seu moço. Eu mermo as pranto e nunca butei veneno oucarburêto nelas. – Respondeu o feirante,  numa voz mansa e bem arrastada.
Henrique, que era bom observador e também gozador, diz, meio sorridente:
- Não sei porque o povo de Mimoso só fala chorando…
O feirante, arrumando as pinhas, sem olhar pro seu interlocutor, responde, num tom mais manso e arrastado:
- E eu num sei pruquê o povo de Aicoverde só fala sinriiiiiindo
Henrique dá uma leve palmada no ombro do feirante, como se já o conhecesse de longas datas, compra meia dúzia de pinhas e vai embora, ouvindo “Moonlight Serenada”, de Glenn Muller e sua orquestraao longe, da difusora instalada na Praça Barão de Rio Branco, e a voz do locutor: “Assista hoje na matinê do Cine Bandeirante, o Gigante da Praça da Bandeira, Tarzan, o Rei da Selva e o terceiro episódio do seriado Os Perigos de Nioka"

                                                                                                                              "RAL"

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